No ano 2000 foi realizado o primeiro Festival de Jazz e Blues de Guaramiranga que hoje já é considerado referência nacional na área musical. O Festival, que virou tradição no Ceará, partiu de uma idéia ousada de levar jazz, blues e música instrumental, durante o carnaval, para a região serrana cearense do Maciço de Baturité. O pré-Festival, que oferece shows na capital cearense durante o mês de janeiro, cria uma ambiência preparatória e de expectativa para o período carnavalesco, sendo uma das atividades que ganhou destaque e propiciou a ampliação de acesso ao público. A pequena Guaramiranga, cidade de clima ameno e distante 109 km da capital Fortaleza, recebeu o melhor desses estilos musicais nos quatro dias do período momino, entre 02 e 05 de fevereiro. Durante o Festival em Guaramiranga a programação aberta ao público constou de shows nas praças, jam sessions, cortejos musicais, oficinas, ensaios abertos e cineclube. Para a edição de 2008, essa programação se estendeu, oferecendo três cursos e três workshops em cidades do interior do estado, ambos gratuitos. Em seguida, do dia 07 a 10 de fevereiro, o Festival desceu a Serra levando para os palcos de Fortaleza o melhor de sua programação artística.
Consolidado no calendário de eventos musicais do Brasil, o evento prima pela qualidade, onde a boa programação dá o tom das edições do Festival de Jazz & Blues, primazia esta que vai da escolha dos cenários à diversidade da programação. De um lado, o clima serrano da acolhedora cidade de Guaramiranga ? transformada pelo colorido de visitantes dos mais diversos quadrantes do país e do mundo ?, do outro, a oferta de oficinas e shows memoráveis em escolas, praças e teatro, dando a este carnaval cearense um tom artístico e criativo. A organização prioriza a música de qualidade, ao invés do simples entretenimento, o que favorece a credibilidade que as pessoas depositam no evento, sejam músicos, produtores, incentivadores e público. Grandes nomes da música brasileira já passaram pelos palcos do Festival, como: Hermeto Pascoal, Leo Gandelman, Márcio Montarroyos, Egberto Gismonte, Toninho Horta, Naná Vasconcelos, Ivan Lins, Danilo Caymmi, Paulo e Daniel Jobim, João Donato, entre outros. E da música mundial já tivemos: Stanley Jordan, Jean Jaques Milteau, Izzy Gordon, Kenny Brown, Big Time Sarah, Eileina Williams e Scott Henderson, Frères Guissé, entre outros. Alguns desses músicos sequer conheciam o Brasil e o Festival os motivou a trazer a sua arte ao nosso país.
O Festival tem sido importante difusor dos gêneros musicais jazz e blues, bem como dos desdobramentos criativos provenientes deles. O caráter formador do evento tem propiciado o acesso à criação musical por parte de artistas residentes no interior e na periferia cuja possibilidade de acesso seria quase inexistente.
A alternância das apresentações entre bandas formadas em nosso estado e outras já consagradas nacionalmente contribui para popularizar o conhecimento da produção local e permite o intercâmbio entre músicos, o que influencia positivamente a formação artística. A realização de ensaios abertos, oficinas e cursos ministrados antes e durante o evento também estimulam essa formação. Outro fator de suma relevância é contribuir para a formação positiva da imagem institucional de nosso estado como pólo criador e realizador de ações culturais significativas, conquistando espaços na mídia nacional e internacional, provocando o interesse de turistas mais qualificados.
No ano de 2008, o Festival, com o intuito de promover a ampliação do acesso ao público de uma maneira geral, modificou seu conceito. A idéia girou em torno do ?experimentar o jazz?, cuja programação apresentou artistas de renome que desenvolveram trabalhos autorais influenciados por este estilo, diferentemente do que mostram em sua carreira profissional.
Nessa nova concepção também foram incluídos artistas que, mesmo não tendo influências diretas advindas do jazz e do blues, puderam experimentar com o público esse gênero musical, propiciando um caráter especial e diferenciado ao evento.
Fundamentado no conceito de valorização e incentivo à música de qualidade nos estilos jazz, blues e instrumental, o Festival de Jazz e Blues de Guaramiranga 2008 teve como objetivos:
- Oferecer ao público um evento cultural diferenciado e de qualidade durante o feriado de carnaval.
- Contribuir para formação de músicos residentes no interior do estado cujo acesso, possibilidade e condições de contato com produções musicais dos gêneros jazz e blues são insuficientes.
- Possibilitar ao público presente o conhecimento e reconhecimento da produção musical cearense, nacional e internacional, das tendências de jazz, blues e instrumental, difundindo esses estilos musicais por meio de uma rica e diversificada programação.
- Explorar, através do ?experimentar o jazz?, o poder de criação e influência do gênero na formação de platéia e dos artistas envolvidos.
- Propiciar outras possibilidades de apropriação do jazz tanto pelos artistas quanto pelo público.
- Ampliar o mercado consumidor de música instrumental, jazz e blues, formando platéia e oferecendo opções de democratização do acesso à cultura.
- Promover o encontro e o intercâmbio entre músicos cearenses e de outros estados brasileiros, assim como do exterior.
- Valorizar a produção musical local através da promoção de apresentações em espaços privilegiados na programação do evento.
- Estimular a formação musical dos profissionais e amadores por meio do intercâmbio com as bandas de renome e da realização de workshops e ensaios abertos.
- Colaborar para a interiorização da cultura, levando à população da região do Maciço de Baturité um produto cultural diferenciado e inovador.
- Incrementar a cadeia dos agentes produtivos gerando emprego e renda, possibilitando a circulação de recursos na região onde o evento acontece.
- Dinamizar o turismo cultural no estado do Ceará, que não se configura entre os principais destinos turísticos no período do carnaval, por meio de intervenção cultural diferenciada.
- Consolidar o Maciço de Baturité e a cidade de Fortaleza como importantes pólos culturais brasileiros.
São estas intenções e seus desdobramentos que têm propiciado ao evento respeito e reconhecimento como uma atividade imprescindível à atuação cultural no estado do Ceará. Para atingir os objetivos propostos, o Festival contará com uma programação variada que abrange as seguintes atividades:
- Lançamento do Festival (Fortaleza) ? O Festival realiza um show de lançamento no qual apresenta a temática e os aspectos conceituais do evento. Este pré-lançamento acontece no mês de dezembro.
- Pré-Festival (Fortaleza) ? Na medida em que o evento se aproxima, começa a ser apresentada ao público a programação que o Festival terá, no intuito de potencializar a divulgação e ampliar a quantidade do público participante. Neste sentido, busca-se preparar a platéia e os artistas para a programação, bem como criar expectativa dos mesmos pelo evento.
- Shows no Teatro Rachel de Queiroz (Guaramiranga) ? O evento realiza três shows por noite no teatro, distribuídos em duas sessões (20h e 22h). A programação variada apresenta repertórios de qualidade nos gêneros jazz, blues e instrumental, reunindo talentos do Ceará, do Brasil e do exterior. São distribuídas cortesias para os músicos participantes, para os alunos de música da cidade de Guaramiranga e para a comunidade local.
- Ensaios Abertos (Guaramiranga) ? Todas as tardes os músicos convidados realizam ensaios abertos no Teatro Rachel de Queiroz, interagindo com músicos locais e com o público em geral, totalizando 04 (quatro) apresentações. Além disso, é uma oportunidade de o público conhecer um pouco mais sobre o trabalho desenvolvido pelos seus ídolos, por meio de um ?bate-papo? no qual podem fazer perguntas e comentários.
- Apresentações abertas (Guaramiranga/Fortaleza) ? O Festival conta com uma ampla programação gratuita, permitindo aos moradores da região e visitantes acesso a esses estilos musicais, em palcos alternativos, praças e espaços públicos. Em Guaramiranga é montada uma grande arena em espaço público, cedido pela Prefeitura da Cidade, onde acontecem 08 (oito) apresentações gratuitas de músicos nordestinos e os ?Novos Talentos?, que resultam das oficinas oferecidas pelo Festival. Alguns artistas se apresentam também em locais abertos, de grande concentração de público de baixa renda, que não tem acesso a esse gênero musical. Na capital, a programação é levada para os bairros da periferia.
- Palestras (Guaramiranga/Fortaleza) ? Diariamente um jornalista fará uma palestra sobre as origens e histórico dos gêneros musicais: jazz e blues.
- Workshops (Guaramiranga, Fortaleza e interior do estado) ? São realizados workshops gratuitos para músicos e interessados em aprimorar conhecimentos e trocar experiências com os expoentes locais e nacionais que se encontram no evento.
- Oficinas e minicursos (Guaramiranga e interior) ? Algumas oficinas e minicursos acontecem em três cidades do interior do estado antes do período do Festival para formar novos grupos que receberão a oportunidade de se apresentar no Festival. E durante o Festival são oferecidas também oficinas e minicursos para o público presente nas localidades do evento.
- Jam Sessions (Guaramiranga) ? Em lugares abertos ao público, os músicos promovem duelos entre componentes de grupos diferentes, resultando em grande celebração de talentos e possibilitando aos músicos iniciantes tocarem com nomes já consagrados. As jams são realizadas em todas as noites de realização do evento.
- Cine Clube (Guaramiranga) ? Na Associação dos Amigos da Arte de Guaramiranga ? AGUA ? são oferecidos filmes e vídeos sobre a história do jazz, no intuito de fortalecer o caráter formador do evento.
- Atividades paralelas de responsabilidade social ? O evento aproveita a oportunidade para despertar a atenção do público presente, entre moradores e visitantes, para a questão ambiental, incentivando a prática do turismo ecologicamente responsável por meio de ações educativas como: campanhas de preservação da Mata Atlântica, blitz ecológicas, trilhas ecológicas, feira de artesanato, oficinas musicais e de reciclagem de lixo.
Durante sua realização, o Festival contribui para a formação de platéia no gênero jazz, blues e instrumental e possibilita a inversão da lógica do mercado cultural, levando os grandes expoentes da música nacional e internacional para a pequena cidade de Guaramiranga, cuja população é de 6.000 habitantes, promovendo o acesso de produtos culturais refinados à comunidade local. Leva a música instrumental para espaços públicos, abre novos caminhos para a divulgação cultural brasileira e proporciona conhecimento e distribuição de informação artística.
A programação variada e gratuita e a proximidade com os músicos participantes através de ensaios abertos e workshops despertam nos jovens o interesse pela arte. O incentivo tem rendido o surgimento de bandas no interior do Ceará, que vêm se apresentando nas diversas cidades cearenses e brasileiras. Em 2007, o Festival ampliou suas atividades e sua programação através do oferecimento do Pré-Festival que aconteceu em Fortaleza e do Cortejo de Sanfona, realizado em Guaramiranga. Vale destacar ainda a ampliação do número e tipos de oficinas e workshops na capital e no interior, disponibilizando um número maior de atividades gratuitas dentro do Festival.
Os resultados exitosos do Festival têm conquistado repercussão no resto do país, servindo de parâmetro de produto cultural para diversos outros eventos do gênero que tem surgido no Brasil. Durante sua realização tem recebido visita de produtores e gestores públicos interessados em reproduzir sua experiência. Alguns Festivais, como o de Pedro II (PI) e Angra dos Reis (RJ) aproveitaram as melhores experiências de Guaramiranga, adaptando-as à sua região. Isso porque o evento prima pela qualidade, que dá o tom das edições do Festival, primazia esta que vai da escolha dos cenários à programação.